Ao se abordar a temática da
indústria cultural no Brasil, obrigatoriamente tem-se de retratar o papel da
televisão brasileira. Torna-se, então, pertinente acompanharmos o trecho do
texto de Marco Antonio Bettine de Almeida, “Aspectos teóricos da indústria
cultural e a televisão no Brasil”.
A
TELEVISÃO COMO CONSOLIDAÇÃO DA INDÚSTRIA CULTURAL NO CENÁRIO
BRASILEIRO
Foi com os militares que tivemos um amplo
avanço da indústria cultural no Brasil (ALMEIDA e GUTIERREZ, 2005), através da
incorporação e importação de todo o aparato tecnológico ligado às artes
audiovisuais, principalmente a televisão. Esta é claro, já existia há algum
tempo no país, a novidade daquela época era seu poder e alcance, em grande parte
determinada por sua organização verdadeiramente moderna e pelo irrestrito apoio
estatal a seu crescimento que, de tão intenso, chegou a provocar profundo
impacto tanto no modo de ser da experiência cultural – afetando, em alguns
casos, o destino de obras de outros gêneros (teatro, artes plásticas, músicas,
poesia) –, quanto na própria situação material do produtor de
cultura.
No teatro, na música e na
poesia a arte audiovisual se fazia presente, com textos fotográficos, dinâmicos
e urbanos, com sons que descreviam histórias, fatos e acontecimentos em imagens,
com peças que esboçavam o fascínio, as cores e o Brasil. A televisão influenciou
todo o ramo artístico, era o novo meio de comunicação, com uma abrangência
assustadora, levando à incorporação de artistas e técnicos que viam na televisão
uma nova estética, um novo meio de fazer arte. Um novo meio de reprodutibilidade
técnica, já que não necessitava mais do palco para fazer teatro, existia agora a
reprodução das imagens em forma de tela.
A indústria cultural através
da televisão incorporou a arte nacional-popular. O mercado introduziu na sua
programação as expressões nacionais-populares – poesia marginal, cinema novo,
teatro do oprimido, Centro Popular de Cultura, UNE-volante, tropicália – e
transformou-as, através do processo de colonização – num mercado de consumo
ligado ao nacionalismo e desenvolvimentismo com propagandas governamentais. O
exemplo clássico deste nacionalismo sem engajamento, juntamente com o
afastamento da estética e a desistência de algo inovador foram as
novelas.
"Neste processo de
industrialização todos os mecanismos são transformados em mercadorias, a
emancipação feminina, a liberdade sexual, todos estes discursos nascidos dos
artistas de esquerda perderam o seu caráter subversivo na era da indústria
cultural. Esse aproveitamento conservador do sexo pelo mercado coexiste com o
velho conservadorismo a glorificar a tradição, família e propriedade. Vivendo as
tradições do passado e a apologia da liberação sexual nas telenovelas" (RIDENTI,
1999, p.238).
Estes são motivos suficientes
para demonstrar a força e a importância da televisão no Brasil. As novelas foram
a grande invenção nacional. Capazes de prender mais de 70% dos telespectadores,
com seu linguajar cotidiano, temas da vida privada e unicidade cultural. As
novelas propiciaram tal conjunção com o público que as mulheres aprenderam a se
vestir como os personagens e as adolescentes aprenderam a querer seus sonhos
modernos. Segundo Kornis (2001, p.11) em 1964, quando a história da televisão
brasileira começaria, o Brasil tinha 34 estações de TV e 1,8 milhão de aparelhos
receptores. Em 1978, já eram 15 milhões de receptores. Em 1987, 31 milhões de
televisores se espalhavam pelo País, dos quais 12,5 milhões em cores. Hoje,
trata-se do sexto maior parque de receptores instalados no
mundo.
Depois de 1980, quando se
inicia o processo de redemocratização, segundo Ridenti (1999), há uma ampliação
dos bens culturais industrializados, pois se há o fortalecimento da indústria
cultural com os militares é no período de abertura política que ela chega ao seu
apogeu. Sem a censura os filmes, livros e programas nacionais e internacionais
tiveram a possibilidade de serem divulgados amplamente. Com a abertura política
ficou mais fácil a penetração dos bens culturais de massa a serem lançados e
consumidos pela população.
A abertura política, no começo
da década de 1980, propiciou um desenvolvimento vertiginoso da indústria
cultural, em função principalmente dos investimentos que já tinham sido
realizados durante o regime militar na área das comunicações, sempre sob
controle dos órgãos de censura. Porém, é preciso ter presente que enquanto a
expressão típica da industria cultural no regime militar caracterizou-se pelo
nacional-desenvolvimentismo, a industria cultural na redemocratização e nos
períodos subseqüentes foi marcada pela globalização e pelo fim da censura. Estes
dois acontecimentos mostraram ser o casamento perfeito para o desenvolvimento da
Industria Cultural brasileira, tendo como carro chefe a
televisão.
Conclusão
REVISTA DIGITAL - Buenos Aires -
Año 13 - Nº 121 - Junio de 2008 - http://www.efdeportes.com/efd121/aspectos-teoricos-da-industria-cultural-e-a-televisao-no-brasil.htm
acesso em 23/04/2011, 19:10 h (fragmento)
15. A partir do texto apresentado
e das reflexões sobre a indústria cultural, pode-se afirmar que a televisão é
benéfica ou maléfica para a sociedade brasileira? Discuta com seus colegas e
registre suas conclusões.